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1 de abril de 2019

O vermelho e o negro: Stendhal


"Ao chegar a Florença, meu coração batia com força... em uma curva da estrada, meu olho mergulhou na planície e percebi, de longe, como uma massa escura, Santa Maria Del Fiori e sua famosa cúpula, obra-prima de Brunelleschi. Eu me dizia: ‘É aqui que viveram Dante, Michelangelo, Leonardo da Vinci! Eis esta nobre cidade, a rainha da Idade Média! É nesses muros que começou a civilização”... as lembranças se comprimiam em meu coração, sentia-me sem condição de raciocinar e entregava-me à minha loucura como junto de uma mulher a quem se ama... Eu já me encontrava em uma espécie de êxtase pela idéia de estar em Florença e pela vizinhança dos grandes homens dos quais eu acabava de ver os túmulos [Michelangelo, Alfieri, Machiavel, Galileu]... Absorvido na contemplação da beleza sublime, que via de perto, eu a tocava, por assim dizer. Tinha chegado ao ponto da emoção onde se encontram as sensações celestes proporcionadas pelas belas-artes e os sentimentos passionais. Saindo de Santa Croce, meu coração batia forte, o que em Berlim chama-se "nervos"; a vida esgotara-se em mim, eu andava com medo de cair...” STENDHAL (Nápoles e Florença: Uma viagem de Milão a Reggio)























O pós Reunião

Incêndio no céu.
Põe-se o ardente sol de agosto,
e as cigarras cantam.
(Elenir)




"Não há direito natural, essa ideia é só uma velha tolice muito digna do promotor que me acusou outro dia, seu avô enriqueceu com o confisco de Luís XIV. Só há direito quando há uma lei proibindo fazer alguma coisa, sob pena de punição. Antes da lei, de natural só há a força do leão, ou a necessidade da criatura que tem fome, que tem frio, a necessidade, numa palavra... Não, as pessoas que se honram são apenas bandidos que tiveram a sorte de não ser pegos em flagrante delito. O acusador que a sociedade lança contra mim enriqueceu com uma infâmia... Cometi um crime e fui justamente condenado, mas, a não ser por isso, o juiz que me condenou é cem vezes mais nocivo à sociedade."

Vocês só vêem o momentâneo! Seus olhos não conseguem seguir o trabalho subterrâneo das escolhas filosóficas sob o manto das decisões pragmáticas.

"É preciso renunciar a toda prudência. Este século é feito para tudo confundir! Marchamos para o caos."

"Repito máximas para servirem de dique às minhas paixões."

"Meu Deus, dai-me a mediocridade."



"Talento? 
Serviço? 
Merecimento? 
Que nada! 
Pertença a um grupinho." 





Palavras soltas, encontros ao acaso, transformam-se em provas mais que evidentes aos olhos do homem de imaginação, se ele tiver alguma chama no coração.

  • "— Você é predestinado, meu caro Sorel — diziam-lhe; — você tem, muito naturalmente, esse ar frio de quem está a 1 000 léguas da sensação presente que nós tanto procuramos adquirir. / — Você não compreendeu esse século — dizia-lhe o Príncipe Korasoff: — faça sempre o contrário do que esperam de você. Aí está, realmente, a única religião de nossos tempos. Não seja doido nem afetado, pois, nesse caso, esperarão de você loucuras e afetação, e o preceito não será mais cumprido." [p.264-265]

A sua grande missão é julgar com calma os pequenos acontecimentos da vida cotidiana dos povos. A sua sabedoria deve prevenir as grandes cóleras movidas por pequenos motivos, ou por eventos que a voz da fama transfigura, levando-os longe demais.




Sua resposta foi perfeita, sobretudo longa como um sermão; dava a entender tudo, mas não dizia nada claramente.




"La vérité est dans la bouche des enfants" (Platão/Sartre)




"O amor, isto é, a mulher, revela os verdadeiros fins da existência: o belo, a felicidade, a vivacidade das sensações e do mundo" (Simone de Beauvoir)



“As mulheres só perdoam depois de terem castigado.” 

“Parecer o que se é, é um crime; parecer o que não se é, um sucesso.” 
DELPHINE GAY DE GIRARDIN










3 comentários:

  1. "Então, preguiçoso! hás de estar sempre lendo estes malditos livros quando estás de guarda à serra?"
    Parece que Julien era dado à leitura, o que não agradava ao pai que era carpinteiro.

    Sonia Salim

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  2. Respostas
    1. Elô, que leitura maravilhosa! Estou tentando concluir um poema. Fiquei intrigada com a personalidade ou caráter (corrijam-me os psicólogos e psicanalistas), do Julien Sorel.

      Simplesmente, amei!!!

      Excluir

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