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10 de janeiro de 2017

Livro: A Tradutora, de Cristovão Tezza

Olá queridos!
Reproduzo a resenha que fiz no meu blog Mar de Variedade.
Esse é o livro do mês do Clube de Leitura Icaraí, cuja reunião será na quinta-feira.
É o primeiro livro que leio do autor, que escreveu o premiado "O Filho Eterno".

Sinopse da Saraiva: "O novo romance do autor de O filho eterno. Beatriz é uma tradutora de 30 e poucos anos às voltas com o desafio de traduzir o espanhol barroco do catalão Felip T. Xaveste. Em seu apartamento, depara-se com uma sucessão de acontecimentos que entrelaça a urgência do instante presente com a memória: um envelope em branco deixado misteriosamente sob a porta da sala; as pequenas e grandes dúvidas que envolvem a tradução e os desdobramentos que projeta para a sua carreira; a conversa ao telefone com o namorado escritor, que a assedia intelectualmente; e uma ligação inesperada propondo-lhe um trabalho como intérprete de um executivo da FIFA em visita a Curitiba para os preparativos da Copa do Mundo no Brasil. Sob a força do puro prazer narrativo, nossa curiosidade é sequestrada pelo cruzamento sutil de pontos de vista ao longo de três dias intensos. Lembranças, argumentos e percepções da personagem se desdobram em múltiplas combinações. Neste romance sofisticado, conduzido por um fio de leveza, humor fino e autoironia, encontramos Cristovão Tezza em pleno vigor de seu domínio narrativo – um livro que nos dá a sensação de vislumbrar a metade mais fascinante, complexa e misteriosa do universo humano: a feminina."


Essa é minha primeira leitura do ano. Confesso que não é o tipo de livro que está entre os meus favoritos.
A protagonista é a Beatriz, uma tradutora, que mora em Curitiba, e tem um namorado escritor, que mora em São Paulo, o Donetti, com quem tem uma relação conturbada. 
O livro vai mostrar a Beatriz traduzindo um livro do fictício escritor catalão Felip T. Xaveste, trabalho enviado pelo editor paulista Chaves, que pediu o término da tradução antes da Copa do mundo.
A narrativa é, na maior parte do tempo, em terceira pessoa. A Beatriz traduz, ao mesmo tempo que imagina situações com o namorado ou com a Bernadete, sua amiga. Algumas situações ela vivenciou, outras ela imagina. 
Sinceramente, eu achei um pouco confusa a narrativa. Tive que voltar algumas vezes para conseguir acompanhar a leitura. 
A Beatriz, nessas conversas com a amiga, ou quando está pensando, mostra um namorado ciumento e dominador:
"Eu não suporto mais o teu controle. Eu não aguento mais o teu ciúme psicopata mal reprimido que você deixa escapar até pela mínima entonação da voz, como alguém que quer dominar simultaneamente tudo e todos e principalmente a mim, oculto em si mesmo, no duplo da máscara..."
A protagonista recebe uma proposta para trabalhar como intérprete de um executivo da FIFA, o Erik, e acompanhá-lo durante três dias, em Curitiba, e prontamente aceita, já que ganhará um bom dinheiro. 
Ele pede para que ela vá aos pontos turísticos de Curitiba com ele e também em um terreiro de umbanda. 
No livro, os personagens acabam falando de política e, por conseguinte, tocando em nomes importantes. 
Ela acaba recebendo um envelope branco misterioso, com uma frase escrita  com letras recortadas de um papel (prestem atenção nessa parte, pois no final temos a explicação).
Em vários momentos, a Beatriz imagina o que o Donetti diria se estivesse com ela. 
"Para o aeroporto, por favor - e Beatriz fechou a porta do táxi vivendo a aflição antecipatória dos diálogos inexistentes que atormentavam a vida, esta maldita imaginação, os duplos mentais."
Conforme vai lendo Xaveste, vai pensando em sua vida e fazendo um paralelo.
"- a retórica do Xaveste começa a me influenciar, ainda que o amor não seja a matéria dele, embora a condição feminina seja. "
Aos poucos, a Beatriz vai conhecendo melhor o Erik e passa a analisar o seu jeito.
"Havia uma graça no método de Erik Höwes, ela percebeu imediatamente, quase um jeito de mestre-escola, vamos fazer tudo direitinho, deixar tudo resolvido, e em seguida vamos nos divertir!" 
A Beatriz também começou a fazer comparações do Donetti com o Erik e tenta, através deste, viver dias leves. O Erik, por sua vez, por ser estrangeiro, acaba mostrando uma outra Curitiba para ela, através de seu olhar. 
Achei interessante quando o autor utilizou, através da fala da Beatriz, a expressão "padrão FIFA", muito utilizada na época da Copa do Mundo. 
A narrativa não é linear, talvez por isso necessite de maior atenção do leitor, eis que a Beatriz intercala a tradução com falas e pensamentos. 
Assim, de uma forma geral, a Beatriz é essa pessoa com um turbilhão de pensamentos e devaneios, que, através do seu trabalho de tradutora, também tenta interpretar e "traduzir" as suas complexas relações de amizade e de amor.
Como falei, nem todos se identificam com esse tipo de narrativa, porém, reconheço o mérito do autor, por se tratar de uma personagem bem difícil de criar e de desenvolver. 


Boa leitura!

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