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12 de dezembro de 2016

Poemas: Wislawa Szymborska

OS BONS TEMPOS VOLTARAM

Poemas de Szymborska e Amigo Oculto comemorativo de final de ano

O CLIC RENASCE COM A MAGIA DA POESIA 




QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ LEU POESIA DE VERDADE?


“o Mozart da poesia”


- Não vais entrar - diz a pedra - 

Falta a ti o sentido da participação. 

Nenhum sentido substitui o sentido da participação. 

Mesmo a visão elevada até à clarividência 

não serve para nada sem o sentido da participação. 

Não vais entrar, tens apenas uma noção deste sentido, 

apenas o seu germe, sua imagem. 



Bato à porta da pedra. 

- Sou eu, deixa-me entrar. 

Não posso esperar dois mil séculos 

para entrar debaixo do teu teto. 



Se não crês em mim - diz a pedra - 

Dirige-te à folha, ela te dirá o mesmo que eu, 

e à gota d"água, que te dirá o mesmo que a folha. 

Por fim pergunta aos fios de teu próprio cabelo. 

Um riso se alarga em mim, um riso, um riso enorme,



eu que não sei rir. 



Bato à porta da pedra. 

- Sou eu, deixa-me entrar. 

- Não tenho porta - diz a pedra.




"Excesso", de Wislawa Szymborska


"Foi descoberta uma nova estrela,
o que não significa que ficou mais claro
nem que chegou algo que faltava.


A estrela é grande e longínqua,

tão longínqua que é pequena,

menor até que outras

muito menores que ela.

A estranheza não teria aqui nada de estranho

se ao menos tivéssemos tempo para ela.



A idade da estrela, a massa da estrela, a posição da estrela,

tudo isso quiçá seja suficiente

para uma tese de doutorado

e uma modesta taça de vinho

nos círculos aproximados do céu:

o astrônomo, sua mulher, os parentes e os colegas,

ambiente informal, traje casual,
predominam na conversa os temas locais
e mastiga-se amendoim.



A estrela é extraordinária,

mas isso ainda não é razão

para não beber à saúde das nossas senhoras

incomparavelmente mais próximas.



A estrela não tem consequência.

Não influi no clima, na moda, no resultado do jogo,

na mudança de governo, na renda e na crise de valores.



Não tem efeito na propaganda nem na indústria pesada.

Não tem reflexo no verniz da mesa de conferência.

Excedente em face dos dias contados da vida.



Pois o que há para perguntar,

sob quantas estrelas um homem nasce,

e sob quantas logo em seguida morre.



Nova.

- Ao menos me mostre onde ela está.

- Entre o contorno daquela nuvenzinha parda esgarçada

e aquele galhinho de acácia mais à esquerda.

- Ah, exclamo."



(Do livro Poemas de Wislawa Szymborska, tradução de Regina Przybycien, publicado pela Companhia das Letras.)


Dois Macacos: Brueghel



Um comentário:

  1. A escolha de um livro de poesia para o mês de dezembro foi muito feliz. Que em 2017 façamos Boas escolhas de leitura!

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