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8 de janeiro de 2016

E Dom Pedro acabou ficando...

Por Wagner Medeiros Junior


Quando a família real desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, o futuro imperador do Brasil, D. Pedro I, contava com nove anos de idade. A estratégia de transmigração da corte, aprovada pelo príncipe regente D. João, era de não deixar que a rica colônia da América, o Brasil, viesse a ser dominada pelos britânicos. A viagem para o Brasil evitaria também a humilhação do trono português pela França, pois as tropas sob comando do general Junot já estavam na fronteira com a Espanha para ocupar Portugal.
D. Pedro de Alcântara nasceu em Lisboa, no Palácio de Queluz. Com a morte de seu irmão mais velho, D. Antônio, em 1801, tornara-se o legítimo herdeiro de D. João, que já ocupava o trono devido à insanidade da rainha, D. Maria I, sua mãe. Embora muito estimado pelo pai, D. Pedro era preterido por D. Carlota Joaquina, que tinha predileção por D. Miguel, seu filho mais novo. Dela D. Pedro herdaria o temperamento impulsivo e às vezes até mesquinho e grosseiro, mas também com capacidade de externar grande bondade, conforme D. João. 
Desde pequeno D. Pedro manifestava uma grande vocação para a carreira militar. Quando adulto mostrou-se romântico e sedutor. A maioria de seus biógrafos concorda que lhe faltava uma educação esmerada, conforme tradição das famílias reais europeias, o que não significa que não tivesse uma razoável cultura. Além da língua pátria, dominava o latim e o francês, e compreendia bem o alemão e o inglês. Gostava de compor músicas e poesias, bem como dos hábitos simples, sem protocolos.
O ingresso de D. Pedro na política sucedeu-se quando a família real é forçada pelas Cortes portuguesas a regressar a Portugal, com a Revolução Liberal do Porto, em agosto de 1820. No entanto, já adaptado ao Rio de Janeiro, D.João hesitava em voltar. Para atenuar a pressão das Cortes, o ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, conde de Palmela, aconselhou-o a mandar em seu lugar o príncipe herdeiro para  Lisboa.
Todavia, conforme relatam as historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, em “Brasil: Uma Biografia”, D. João, por seu lado, ia resistindo: nem consentia em voltar, nem lhe agradava a idéia de mandar para Portugal o filho Pedro. Por sinal, sussurrada pelos cantos, essa sugestão mais parecia um segredo de polichinelo: todos conheciam o projeto, menos o príncipe. A essas alturas, já com mulher e filhos, ele era mantido na maior ignorância dos planos que envolviam sua pessoa. D. Pedro não participava efetivamente do governo, e, embora casado, continuava a manter uma vida de boemia na sede do império, no Rio de Janeiro.
Porém, após jurar obedecer à Constituição, por intimação das Cortes, em abril de 1821, D. João VI é obrigado a retornar para Portugal com toda família real. D. Pedro, entretanto, é impelido a permanecer como Príncipe Regente, de modo a garantir o domínio territorial e do Estado, e evitar que o Brasil viesse a ter o mesmo destino das colônias espanholas na América.  

Além do tesouro da corte D. João VI levou consigo todo o ouro e depósitos sob a guarda do Banco do Brasil, o que deixaria D. Pedro em grandes dificuldades. O Rio de Janeiro também se ressentiria com o regresso a Portugal de uma comitiva de 4000 pessoas entre servidores da casa imperial, ministros, burocratas, militares e membros do clero. D. Pedro, por sua vez, continuava a relutar em permanecer no Brasil. Seu desejo era iniciar a vida política na nova sede do reino, em Portugal.
Neste momento as ações das Cortes portuguesas se intensificavam e várias capitanias brasileiras eram transformadas em províncias, com juntas governativas próprias, subordinadas diretamente às Cortes em Portugal. Os poderes de D. Pedro, deste modo, iam aos poucos sendo reduzidos. Tornava-se cada vez mais claro aos brasileiros, portanto, sobretudo aos do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, que a intenção das Cortes era dividir o Brasil, submetendo-o, de novo, ao domínio de Portugal.
Assim, mesmo contra a vontade, D. Pedro é obrigado a permanecer no Brasil pela pressão dos brasileiros, que agora clamavam pela libertação de Portugal. Outro motivo importante foi a influência da princesa D. Leopoldina, por solidarizar-se à causa dos brasileiros. A tia de D. Leopoldina, Maria Antonieta, tinha sido guilhotinada por uma revolução liberal na França e ela temia pelas notícias que chegavam de Portugal.
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Preto no Branco por Wagner Medeiros Junior

5 comentários:

  1. Dizem que, de Dom João VI, Napoleão declarou: "Foi o único que me enganou." Ótimo texto, Wagner! A figura de Dom Pedro, realmente, é interes-santíssima(?). Às vezes me parece um pouco quixotesca! Muito legal sua postagem!

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    1. Caríssimo Evandro,
      Você tem plena razão, quando diz que a história de D. Pedro lhe parece "quixotesca". Além deixar aqui no Brasil a vida marcada por todo o arroubo da juventude, seu retorno à Europa, após a abdicação do trono, é uma história realmente fantástica. D. Pedro consegue recuperar o trono português para sua filha D. Maria II (em Portugal), usurpado por seu irmão D. Miguel. Isto custou-lhe a vida, mas o colocou no panteon dos heróis, após a vitória com um força infinitamente menor.

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  2. Muito boas as suas postagens, Wagner. Neste país que se acaba e transforma-se em não sei o quê, a História e a Literatura, as artes, a cultura verdadeira, são um modo de resistência.
    Carlos Rosa.

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    1. Então, continuaremos resistindo, caro Carlos Rosa. Realmente não dá para aguentar toda ignorância que predomina em nosso país.

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  3. Tenho grande gosto pela História do Brasil Imperio..

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