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5 de janeiro de 2015

Revivendo leituras passadas - Noite do oráculo: Paul Auster

Quando o narrador/escritor compra o caderno na papelaria para voltar a escrever, azul e com encadernação de pano, somos remetidos ao momento em que compramos o livro na livraria para lê-lo, porque a capa de ambos se assemelham. Fiquei com a impressão de que lia no mesmo momento em que o protagonista escrevia sua (nossa?) história. Senti uma espécie de vertigem, despertou em mim um estado de dupla consciência ao perceber isso, como se me deslocasse do mundo real e entrasse na ficção, me tornasse parte da história, absorvido pelo livro e me integrado ao protagonista. A leitura de Paul Auster tem esta capacidade de alterar a percepção usual do leitor. Já tinha sentido algo parecido quando li "A invenção da solidão". Alguns livros, como esse de Paul Auster, me passam a impressão de que o autor quer nos estimular a escrever também nossos próprios textos, mostrando como seus personagens constroem seus livros.


Autorretrato com irmão imaginário: Willem de Kooning



Palavras podem matar. Nenhuma outra descoberta poderia ser tão terrível para um escritor em crise. O futuro assume uma face assustadora para Sidney Orr quando ele volta a escrever, estimulado pelas páginas de um caderno azul comprado na papelaria de um chinês em Nova York. Sob o efeito misterioso do caderno e ainda convalescente após uma grave doença, Orr tenta retomar a carreira, interrompida cerca de um ano antes. Sua escrita volta a fluir com espontaneidade nas convidativas páginas em branco. Aos poucos, porém, ocorre-lhe uma suspeita; as narrativas imaginadas por ele podem conter uma relação secreta e inexplicável com o futuro das pessoas que lhe são mais próximas, como sua esposa e seu melhor amigo. Episódios fortuitos, palavras ditas e ouvidas ao acaso, notícias de jornal - tudo, de uma hora para outra, parece se relacionar com o drama pessoal de Orr, a crise de inspiração por que passou e a fase difícil que atravessa no casamento.






"Noite do Oráculo" de Paul Auster foi debatido no Clube de Leitura Icaraí em 26/06/2004.

2 comentários:

  1. Para mim, a força deste romance de Paul Auster reside no poder das palavras de predizer o futuro, o que nós sabemos mesmo sem saber que sabemos. É meio mágico, inexplicável, inexpugnável, e ainda assim, consistente.

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  2. Então a gente tem que ter muito cuidado ao usar as palavras, ao compor textos, principalmente se for um texto de terror. Vá que a gente esteja ensejando ou antecipando algo macabro por acontecer.

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