Café-concerto imortaliza 15 anos do CLIc
nas vozes de
nas vozes de
Dília, Cristiana e Zezé
Um café-concerto pra lá de especial, idealizado com trechos poéticos extraídos do livro do CLIc, foi um presente para todos que compareceram à noite de autógrafos. E para os que lá não puderam estar, ou para os que gostariam de relembrar, segue abaixo o caprichoso trabalho de Dília Gouvea e Cristiana Seixas.
As músicas, lindamente cantadas por Maria José (acompanhada do músico Fábio Pereira, contratado pela Dília), estão disponibilizadas em outras vozes, pois infelizmente não temos a gravação in loco. Ao trio maravilhoso, nosso muito obrigada.
Prólogo
Dedicado
às mães que não estão presentes e que se encontram na distância, às mães para
além da distância e às mães para além do além da distância.
DÍ:
Minha mãe visitou-me esta tarde. Servi chá de rosas.
Conversamos
sem palavras. Ela falou mais do que eu.
Falou
sem falar. Sorriu sem sorrir. Explicou e pouco perguntou.
Não
se interessa mais pelos humanos.
É
hoje uma mulher de filosofias. Que conta casos. E sorri muito.
Narradora
de um tempo que ainda não acabou.
Minha
mãe estava diferente. Corpo magro, pele clara, olhos infinitos.
Parece
que vi meu rosto no fundo claro de um deles.
Seus
gestos vagos tocavam meus cabelos. Suave seu toque. Suave sua
Presença.
Paradas
no tempo, tomávamos chá sem pressa.
O
mundo de fora não existia por dentro de nós. O mundo de fora era longínquo.
Mundo
adentro, meu peito respirava em calmaria. Tudo era perto.
Tudo
era belo. Eu vivia e morria em
ondas. E nem sentia.
Lá
fora o Sol congelado brilhava estático. O ar parado. O vento lento.
Por
dentro o chá quente. Chá de rosas. Minha mãe.
(Niza Monteiro)
ATO 1
MÚSICA 1
No pé do vento, da Maria Gadu
CRIS:
Quando a imaginação cria asas, voa pelo espaço em busca de lugares, próximos ou
distantes, pelos quais viaja sem barreiras e encontra ondes para situar a
criação do artista. Que pássaro, por mais veloz que seja, poderia atingir
espaços tão variados? (Gracinda Rosa)
DÍ: A
casa é envidraçada, há muita luz. Haveria uma lareira e vinho? Entra, que coisa
mais atraente: pelas paredes, e perto delas, os objetos de seu desejo: vários livros.
Há calor, vinho, luz! Sorrisos afetuosos, palavras sobre paixão. Só faltava
mesmo a lareira...Pensando bem, ela lá está, depois de alguns minutos, sentada,
percebe que está sim. Uma roda humana, cheia de vida, abraça a mulher...Ela foi
fisgada. (Eloisa Helena)
CRIS:
Eram pessoas que se abriam, assim como os livros, e se deixavam folhear. Umas
páginas mais manuseadas, de letras maiores, outras ainda de pouco uso, mas o
papel sempre macio, bom de pegar, as tintas sem borrão, tudo legível, e os
livros falando-se entre si, sem algazarra, um livro falava, o outro ouvia, e a
música e a dança eram contínuas e alegres e fluíam, simplesmente fluíam. (Rita
Magnago)
DÍ:
Passo um mês inteirinho buscando entre páginas, rabiscando, grifando um trecho,
uma frase, uma palavra, alguma coisa que tenha sido importante para mim. Alguma
coisa que tenha penetrado em minha alma para finalmente compartilhar com você.
Tem sido assim sempre, desde que nos encontramos pela primeira vez. Essa
vontade cada vez maior de me doar, de poder receber de você as respostas para
as minhas dúvidas. (Vera Lucia Freire)
CRIS:
Dita, escrita e cantada a palavra liberta. Num
livro, vira âncora e concentra em si os quatro elementos: da terra por
tornar-se imortal pelo registro, do ar pelo sopro de reflexão que promove, da
água pelo fluir possível das emoções que culminam na lágrima e do fogo pela
transformação do olhar, do pensamento e da própria vida. (Cristiana Seixas)
DÍ:
Sou disso tudo apenas palavras - estas,
que algum autor lavra -e fragmentado em letras torno-me apenas símbolos do meu próprio preâmbulo: projeto de ser Pessoa sem viver, sugado para
dentro das páginas
- que
é uma forma doce de se morrer. É
para este fim que o livro me arrasta Como se desejasse me consumir - não
eu a ele, mas ele a mim!- Eu,
pedra, de coração duro e olhar seco inanimado,
mas testemunha eterna deste mundo. (Novaes/)
CRIS:
O trabalho de acabamento exige movimentos precisos e exaustivos.
Depois
de lixar a escultura, acrescenta uma pátina transparente para obter maior grau
de suavidade. O efeito não poderia ser melhor. Orestes, por todos os ângulos,
está pronto em sua existência dolorosa. Ousa mais uma vez! Vai aos ouvidos dele
e sussurra: Medéia, Emma Bovary, Diadorim, Macabéa. Ele permanece quieto como
um cervo, mas as cortinas esvoaçantes quase se queimam nas chamas que o vento
atiça em labaredas. De
onde esse vento se as janelas e portas estão fechadas? Ela permanece de pé ao
lado de Orestes. Extenuada.
Vai
nascendo o dia. Pouco a pouco. Sem pressa. Ela sente uma inefável e
incompreensível sensação de prazer diante da obra pronta. Viva. Mais uma vez
ela transpôs seus limites. Sua alma está leve. Fica ali, tremendo, o olhar fixo
nos olhos dele, imaginando: que diabos ela irá criar agora? E até quando?
Antes
de apagar as luzes, vê, num rápido vislumbre, as fúrias brilhando nos olhos de
Orestes. (Niza Monteiro)
MÚSICA 2
Eu vivo a sorrir, de Adriana Calcanhoto
Eu vivo a sorrir, de Adriana Calcanhoto
DÍ:
Amor é assim como cafifa, pandorga, papagaio, pipa...
Há
que se “dar linha” para voar bonito
E
há que se deixar ir junto
Soltar-se
céu afora
Voar
o infinito, no espaço-tempo...
...
e além...
Ahhh...
eu ainda vou voar um amor assim. (Ilnea Miranda)
CRIS:
No inverno gelado,
A
palavra me acompanha
E
se faz lareira (Elenir)
DÍ:
Há luta no mar!
Homens,
ondas, ventos, velas,
Medem
suas forças (Elenir)
CRIS:
No vaivém monótono
Da
cadeira de balanço,
Cem
anos cochilam. (Elenir)
DÍ:
Fito o espelho.
O
outro que vejo
Desconheço.
Sorrindo,
zomba deste aflito
Que
fita assombrado,
O
tempo passado
Espelhado
no reflexo inverossímil. (Adriana Marins)
CRIS:
Assim nosso amor:
Ração
que alimenta nossa vida,
Razão
que compensa nossa dor,
Chama
para enfrentar a batalha mais renhida,
Luz
que dá sentido a nossa sina...(Fernando L.P. Robles)
DÍ: E
é assim, com o coração repleto e as retinas reduzidas pela suave luz daquelas
manhãs que percebo perfumes e sabores, e vejo os raios oblíquos do Sol de
distantes tardes sobre as nossas árvores. São imagens permanentes, lembranças
daquela natureza viva, companheira de brincadeiras de cada criança da rua.
Ensinou-nos muita coisa. Às vezes paro diante de uma banca de frutas, pego uma
e cheiro profundamente sua casca; e esse ato simples como tão simples é
qualquer fruta, tem o poder de me fazer sorrir, e de me transportar para longe,
para um tempo em que morder uma fruta colhida no pé podia ser a maior
felicidade deste mundo. (Carlos Rosa)
CRIS: Quero a calmaria
Das
brisas suaves e ondas meninas
Doces
curvas que apenas espumam meus horrores
O
que escapa e ultrapassa
O
sentido e os amores (Rita Magnago)
DÍ:
Ria. Sozinho. Ria. Cerveja pela metade. Ria. Ria do fado bobo. (Luiz Gavri)
CRIS:
Um ser nascido, devorado e regurgitado
por
Cronos e, como sua filha,
Vivo
parcialmente
Dentro
e fora dele. (Neide Peixoto)
DÍ:
A verdade é que não me preparei para contar essa história. Ela me colheu, me
requisitou com a urgência de um incêndio que precisava ser extinto. Dizem que
histórias que as histórias valem por isso. Contá-las, e contá-las teria o mesmo
efeito de uma vacina que dessensibiliza a angústia sempre na iminência de
aflorar à pele. A imagem, entretanto, não é bem de uma 'bola vindo ao gol e
eu o goleiro', mas a de um seio vindo em direção a uma boca. Parei tudo para me
dedicar a ela. [...] O que era sacrifício e dor transformou-se num fluxo fácil
de palavras. Elas correm com tamanha volúpia ao meu encontro que não posso me
mexer daqui." (Benito Petraglia)
CRIS:
Lembrou-se dos tempos de exílio, quando, nos momentos em que os pássaros
entoavam seus cantos, sentia a extrema angústia, pela distância dos que lhe
eram queridos. Mas ela o acompanhara e juntos se abraçavam para suprir esse
vazio. (Ceci Lohmann)
DÍ:
Minha finitude transcende a pequenez
Pó
que se revela.Expõe o que não queremos ver. Mastiga
O
intragável gosto da autodecepção.
Os
sonhos são lindos e fundamentais
-mas
um dia nos deparamos com alguém gritando:
“acorda!” Quando os olhos se acostumam ao breu,
Constatamos
foi um livro. (Novaes/)
(Ínicio do diálogo)
CRIS:
Como seria se em cada rua, em cada bairro, em cada cidade, em cada estado, em
cada país e em todas as ruas, em todos os bairros, em todos os estados, em
todos os países de todos os continentes, existissem clubes de leitura
diversificados?! E se toda a sociedade civil planetária se pusesse a ler
incessantemente todas as delícias da arte, da ciência, da filosofia derrubando
as correntes amargas do analfabetismo e da ignorância, e, se...
DÍ:
E se de repente... o debate fosse, subversivamente, o debate da consciência, do
saber, do retorno ao humano da sua dignidade perdida ou oculta em véus de
equívocos e desprazeres? Será que vislumbraríamos finalmente um mundo melhor?
Solidário, fraterno, amoroso?
CRIS:
Deixemos que proliferem clubes de leitura A, B, C,... de todas as letras do
alfabeto, deste mundo e de outros mundos! Por que não ser o nosso clube a mola
propulsora desse desafio? (dília Gouveia)
(Fim do diálogo)
MÚSICA 3
A nossa casa, na voz de Bethânia
Magnífico! Lembrar é reviver!
ResponderExcluirParabéns, meninas. Coletânea espetacular! Show!!
ResponderExcluirAgora , entendo melhor a emoção da Vera...Parabéns, queridas Cris e Dília! Amei!
ResponderExcluirMeu OBRIGADA, mais uma vez, a essa turma querida pela dedicação com que continuam nos brindando,
ResponderExcluirPara mim foi uma noite INCRÍVEL!
Lembranças que ficarão eternamente guardadas em meu coração!
Beijos ternos,
Vera.