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17 de dezembro de 2013

A renitência francesa



A chegada do genovês Cristóvão Colombo ao Novo Mundo, em outubro de 1492, ascendeu a Espanha no cenário das conquistas marítimas do Atlântico, até então dominado por Portugal ao longo de todo século XV. Isto acirrou o clima de disputas entre ambas as nações, só distendido depois de um tratado, intermediado pelo Papa Alexandre IV na cidade espanhola de Tordesilhas, em junho de 1494.

O Tratado de Tordesilhas concedia à Espanha todas as terras situadas a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. O lado leste ficou para Portugal, que há anos já desbravava a costa atlântica africana, vislumbrando alcançar o caminho das Índias. Tal decisão desagrada a França e as demais potências européias, que defendiam o Uti Possidetis, ou seja, que o direito de posse seria da nação que efetivamente viesse a ocupar as novas terras.

Então, D. Manuel I proíbe a seus súditos, sob pena de morte, de fornecer qualquer informação que viesse a facilitar o reconhecimento das rotas marítimas ou de localizar suas novas terras. Portugal não estava disposto a perder a hegemonia do comércio com o Oriente ou de abrir mão de controlar o Atlântico Sul, onde o Brasil ocupava uma posição estratégica.   

No entanto, não obstante ao sigilo e todas as precauções, a França alcançou a Ilha de Santa Catarina ainda em 1504, dando início a um ciclo rotineiro de incursões aos “Brasis” na busca de riquezas. O litoral era extenso, difícil de ser guarnecido e controlado, de forma que de nada adiantou o Papa Júlio II confirmar o Tratado de Tordesilhas em 1506, em favor da Espanha e de Portugal. 

Os franceses mostrar-se-iam inquebrantáveis, ao aliarem-se aos nativos para o escambo e concorrer com os portugueses na exploração em grande escala do pau brasil. Em suas viagens ainda arrebatavam peles de animais, macacos, papagaios, araras, entre outras aves coloridas e tudo mais que fosse interessante e comercializável. Até mesmo os nativos não escaparam de serem levados para exibição na corte, como autênticos atrativos tropicais.

Segundo os historiadores Carlos Guilherme Mota e Adriana Lopes, “piratas e corsários franceses haviam tomado e pilhado nada menos que 350 embarcações” portuguesas, em um período de trinta anos. 

Portanto, a Coroa Portuguesa contabilizava imensuráveis prejuízos com o contrabando, a pirataria e o corso francês. Como as intervenções diplomáticas lusas não logravam êxito, a relação bilateral com França tornou-se muda e surda, em uma guerra fria não declarada.

Na impossibilidade de conter o ímpeto francês, a Coroa Portuguesa passa a enviar expedições guarda costas, com intuito de banir e afugentar os corsários e invasores. Três expedições comandadas por Cristovão Jacques, o Inclemente, foram realizadas em 1516, 1521 e 1527. Jacques declarou guerra aos invasores, destruindo suas feitorias e embarcações. Na primeira delas mandou enterrar vivos vinte franceses, ocasionado um grave conflito diplomático.

Mesmo assim, os franceses se mostrariam pertinazes. Todavia, D. João III não estava disposto a tolerá-los nas terras da América. Resolve, então, organizar uma grande expedição, que deixa Portugal ao final de 1529, comandada pelo fidalgo Martim Afonso de Souza, para iniciar a colonização do Brasil. No início de 1530, quando a expedição chega à costa brasileira captura três navios franceses.

Entretanto, a persistência continuaria. Em 1555 Villegagnon funda a França Antártica e inicia a colonização do Rio de Janeiro; Em 1612 é a vez da França Equatorial, na atual cidade de São Luiz do Maranhão. O corso e a pirataria resistiriam ainda até princípios do século XVIII.

4 comentários:

  1. Com tantas incursões em uma área tão vasta é difícil explicar como o Brasil não se desintegrou em diversas colônias falando idiomas diferentes.

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  2. Muito interessante o tema! Lembrou-me um livro lido no clube de leitura que abordava questões deste período: "A controvérsia" de Jean-Claude Carrièrre.

    Parabéns Wagner, pelos excelentes textos que você nos brindou neste ano. Aguardamos novas reflexões, questões e emoções para 2014 com suas postagens semanais. Adorei os textos sobre história do Brasil, os contos, crônicas e sua rica interação conosco. Além do valor literário dos textos, têm sido fonte de grande aprendizado para mim, sobretudo o questionamento político que você tem abordado de forma muito elegante. 2014, ano de eleições, promete bons debates.

    Boas férias, Feliz Natal, Boas Festas, um Ano Novo cheio de leituras e alegrias para você e família. Abração na Cristina.

    Forte abraço!

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  3. Também quero agradecer suas aulas de história no blog, adoro. Espero que continue em 2014.

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    1. Agradeço as manifestações de apreço do Evandro Paiva de Andrade e da Rosemary Timpone.
      Despeço-me este ano do blog desejando a todos um FELIZ NATAL e PROFÍCUO ANO NOVO. No próximo ano certamente estaremos de volta.

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