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16 de outubro de 2013

A leitura e seus mistérios: Cyana Leahy





A leitura tem muitos mistérios e encantamentos. Em um quarto, em uma sala de aula, em um banco de jardim, em qualquer lugar, ela permite o deslocamento para terras distantes, para épocas passadas ou futuras; possibilita a aquisição de informação e torna companheiros reais personagens inventadas; transmite sonhos, divulga a ciência, possibilita a criatividade; faz o homem mais homem, abrindo espaço, perspectivas, futuros. Quem ensina, quem aprende, o que lê e como lê são questões cruciais para qualquer proposta de Leitura. 
Há profissionais competentes, empenhados na dinamização da leitura em suas salas de aula, mas parte considerável do corpo docene envolvido com projetos de leitura efetivamente não lê: sua disponibilidade para a leitura é mínima, e a resistência, máxima. Consideram leitura a preparação de aulas através dos manuais didáticos pré-prontos, e optam frequentemente por ações de caráter prático, dicas facilitadoras para copiar e usar em seus espaços de trabalho. 
Não se trata de resistência eletiva à leitura: a maioria de nós se sente desconfortável e insegura quanto à própria competência de ler, sem saber exatamente por que. Somos agentes da leitura da palavra e do mundo, precisamos manter os olhares abertos para as mútliplas linguagens: escritas, orais, recontadas, memorizadas. 
Ler é um processo de transformação permanente, que se revela por meio do conhecimento construído, algo que não se mede nem precisa medir. Esse é o princípio fundamental de educação para a cidadania: não há pedagogia sem autonomia, sem a prática da liberdade.
A leitura pode desmanchar fronteiras, estendendo pontes sobre as diferenças. Ler é inclusão desmedida. 



   
  'apelo gramático'

não me cortem os 'es' conjunções
coordenativas aditivas
que me cortam o ar que respiro
cada 'e' é golfada de ar invertido
penetrante ofegante
que ofego de indecisão frente à vida.
Preciso dos meus 'es' como alguns do luar
outros da luz
outros do ar poluído da metrópole holofótica
alumínitica cáustica.
Deixem meus 'es'
que naufrago e mergulho
cada vez mais
em mim.
       
'Biscuit'

Foi hoje um desses dias
em que a gente se descuida
fica pequena frágil louça
dá o reino a vida a alma
por um abraço...  
    
 'de gênero'

Quando um homem adentra o corpo de uma mulher
pensando que lhe dá vida prazer domínio e cansaço
querendo que se contente com o que tem
e que não saia de casa
o homem se esquece que a alma
beija flores 
       
  In  (Re)confesso Poesia, Cyana Leahy, Ed. Sette Letras


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