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23 de maio de 2013

Da série temática Sonhos que não sonhamos (5, parte 1)


Sonho que se sonha junto...
(by Antonio Rodrigues)


"Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade."
(J. Lennon)


Ontem um menino que brincava me falou
Hoje é a semente do amanhã
Para não ter medo que este tempo vai passar
Não se desespere, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo, nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será
(Nunca pare de sonhar - Música de Gonzaguinha )




Eu
era um meninote quando a década de 90 amanheceu sob o céu cinzento da poeira levantada pela queda do Muro de Berlim. Nem podia compreender ainda a razão pela qual os profetas do Liberalismo saíram pelo mundo a proclamar o fim da história, como o fez Francis Fukuyama,  filósofo e cientista político norte-americano, em seu livro “O fim da história e o último homem”, no qual retomava velha tese hegeliana para proclamar a vitória do Capitalismo Liberal sobre o Socialismo Marxista. Aqui, o fim da história significa tão somente que os processos históricos caracterizados por mudanças e transformações acabaram. A história finalmente alcançou seu equilíbrio. Mas será mesmo que chegamos ao fim da história? Será o fim das utopias? O que será da esperança de se construírem sociedades mais humanas? Ficam aí as perguntas como provocação e estimulo ao espírito pensante que nos habita a todos. 
A mim interessa apenas partir desse contexto para propor uma tese. A historiografia contemporânea não tem dúvidas de que os eventos históricos do final dos anos 80 e início dos 90 desencadearam uma grave crise ideológica ainda não assimilada.  Defendo que também uma grave crise dos sonhos se instaurou na década de 90 e ainda permanece ativa e cada vez mais séria em nossos dias. Não se trata de uma crise dos sonhos individuais. Estes são cada vez mais abundantes e variados, embora muitos deles possam ser questionáveis. A crise a que me refiro diz respeito aos sonhos coletivos. Por opção pessoal, prefiro chamar os sonhos coletivos de sonhos-utopia.  Um sonho-utopia é aquele sonho capaz de nos impulsionar para frente e para o alto, e de nos salvar do atoleiro comum da mesmice e do pessimismo maledicente. O sonho-utopia é essencialmente coletivo porque diferente do sonho individual, que se encerra no sonhador, o sonho-utopia encontra sua concreção nos eventos coletivos, eventualmente históricos, e por isso mesmo carrega em si a energia transformadora da realidade e talvez do mundo. São estes sonhos cada vez mais raros. São estes os sonhos que não estamos sonhando. Proponho refletirmos sobre isto. 
E para impulsionar nossa reflexão, cito como exemplo de sonho-utopia o sonho de Martin Luther King, que no dia 28 de agosto de 1963, nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, D.C., proferiu aquele que seria considerado por muitos como o melhor e mais importante discurso americano do século XX. "Eu Tenho um Sonho" (em inglês: I Have a Dream) é o nome popular dado ao histórico discurso de L. King no qual falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos, construindo assim uma verdadeira democracia racial. O discurso fez parte da Marcha de Washington por Empregos e Liberdade e foi um momento decisivo na história do Movimento Americano pelos Direitos Civis. Mais de duzentas mil pessoas sonharam juntas com L. King naquele dia. Segundo o historiador brasileiro Voltaire Schilling, “O dr. King fizera um dos mais belos salmos políticos da língua inglesa.” E completa:  “Mataram-no a tiros uns anos depois, em Memphis, em 4 de abril de 1968. Como estará o sonho do dr. King?”

Continua... 

4 comentários:

  1. Parabéns, Antonio, pelo texto, excelente. Sim, acredito na tese apresentada e na crise existente. A reflexão sobre isso é pra lá de interessante. Por que será? Será que já nos tornamos todos escravos e estamos felizes com isso, como vaticinou o escritor?
    Um grande abraço.
    Carlos Rosa.

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  2. Parabéns, Antônio!
    Belo texto que nos leva à reflexão. Todos deveriam lê-lo. Obrigada!
    Abraços.
    Elenir

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  3. Antonio, seu texto é um chamamento, quase uma convocação. É preciso que acordemos, para então sonhar. Muito bom!

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  4. gostei muito Antonio..Vivenciei tb com muita intensidade esses momentos..Abs saudosos...ceci

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