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26 de março de 2012

Casos de Luzia Velloso - Relançamento


Um brinde para comemoração?
Está feito o convite!



Dia: 15 de Abril - Domingo
Das 11:00h às 13:00h

Local: Escritores ao Ar Livro 
          (Praça Getúlio Vargas)



Fragmentos de memória como obra de arte

A artista plástica Luzia Velloso buscou nas lembranças da infância a inspiração para sua estreia como escritora. Em Casos (Editora Muiraquitã, 80 p., R$40,00), a autora convida o leitor a uma viagem imaginária a Natividade, cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, para, com ela, provar da culinária caseira e das brincadeiras de quintal. Em seu livro de memórias, lançado no dia 23 de março, às 18h, na Livraria Icaraí, Luzia aborda, ainda, os desafios da vida adulta e a mudança para Niterói, onde vive até hoje. A livraria fica na Rua Miguel de Frias 9, em Icaraí, Niterói. 

No livro, Luzia conta verdadeiros “causos” da menor idade, que remontam a espaços de convivência cotidianos, como a vizinhança, a escola primária e as aulas de catequese. Como escreve a professora Bebel Pantaleão na apresentação, “às lembranças de Luzia, misturaram-se outras lembranças. E uma conversa animada acontece”.

Na continuação, a autora narra marcos de sua vida já em Niterói, onde se envolveu com movimentos sociais e ajudou a fundar a Associação de Moradores e Amigos de Santa Rosa e, mais tarde, a Associação de Moradores de Icaraí. Na cidade, também criou o Centro Educacional Renascer, escola vinculada à Secretaria Municipal de Educação, que dirigiu por cinco anos sob as diretrizes da arte-educação. Mais tarde, ela ainda coordenaria o projeto Niterói Artes de Portas Abertas, encontro que prestigia os artistas da cidade. Entremeado de poesias e fotografias, o livro torna-se mais uma das criações artísticas da autora, um convite à saudade. 

Sobre a autora: Começou a trabalhar como professora primária aos 18 anos, depois seguiu as carreiras de pedagoga e psicóloga, sem nunca deixar de lado as experimentações nas artes plásticas. Frequentou as aulas de 3D da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, protagonizou seis exposições individuais e participou de outras 22 coletivas, tendo suas obras apresentadas em Nice (2005), Londres (2006), Luxemburgo (2007) e Atenas (2010).


9 de março de 2012

Um heterônimo para o além?




Leitura de Março/Abril


Fernando Pessoa, li que entre suas dezenas de heterônimos você já teve um mulher, melhor dizendo, não chegou a tanto, foi mais um alter-ego chamado Maria José, corcunda e perdidamente enamorada, não é isso? Mas a minha proposta é outra. Que tal um heterônimo feminino no seu porvir, que por acaso já chegou? Pode ser uma brasileira? Será que seria seu primeiro heterônimo formado pós-morte? Apresento-me ao cargo.

Sorvi contigo, gota a gota, o desânimo e a falta de apetite para a vida que nos representa. Senti teu tédio, inimigo meu de tantas horas não desejadas, passeei ao lado do Tejo em dias de chuva e noites sem sol – coisa que por aqui não há mesmo. Caminhei sem perceber e também cheguei a lugar nenhum de mim, onde me desconheço profundamente. Fui presença sem notar. Nem incômoda foi minha sombra, posto que não pode haver sombra do que não existe, no entanto, sinto que em algum lugar, em algum momento de desalento maior, eu fui, senti esse prazer ou sonhei que senti, e assim ele me foi real, ainda que breve.

Não pude entregar-me de todo como tu, pois estou presa à vida que não existe - mas finge tão bem - estou presa à família, aos amigos, ao amor e, é claro, ao sexo, do qual não posso mesmo fugir, tu bem o disseste através de Bernardo Soares, ‘nem as mulheres superiores o conseguem’. Mas, te confidencio, achei que o que desvesti foi minha alma. Ah, e isso foi bom. Foi só pra mim, que só o sou quando outros, então foi pra todos os que não viram nem souberam, mas não me tira o mérito, não é mesmo?

Agora deixa que te fale o mais importante. Conheci o divino pelos teus pensamentos, que nem eram teus, mas isso não importa. Conheci e quero que tu sintas a maravilha que é. O divino é como um respirar sem fim, um ar puro cheirando a eucalipto com capim limão, que só entra, preenchendo o vazio sem, no entanto, ocupar espaço. O divino é a luz da lua cheia que devolve o brilho à minha alma e a traveste de alegria. O divino é o contentamento infinito do meu coração, que transborda num sorriso incontido e se alegra com o prazer meu e do outro, que também é meu, posto que não sendo ninguém, sou todos. O divino, desculpe que te digas, assim, de chofre, não te queria magoar, mas não te posso mentir. O divino sempre esteve em mim, mas foi por ti que o descobri lá, intrincado com as outras mil facetas que brincam comigo de esconde-esconde.

E, antes que te entregues à melancolia, deixe que te diga mais uma coisa: há 124 anos que nasceste e ainda hoje estás vivo em tantos de nós e por tanto tempo hás de estar que podes agora, enfim, regozijar-se de ter existido, já que se comprova tua presença em nós na tua ausência de nós. Não foste sombra, foste toda a luz por nós. E por isso hoje posso ser leve, tu já carregaste todo o peso da existência social, moral e individual.

Logo, pretendo ser um heterônimo pra cima e agradecida. Hoje em dia, Fernandinho – nós brasileiros vamos logo pegando intimidade - posso ser liberada de conceitos e preconceitos, emancipada de mim, dependente de ti, um pouco, porque a vida sem poesia é mesmice e eu preciso da graça, do sonho e da ilusão, tudo junto e misturado, para formar minha prosa. Vou sonhar teu sonho para ti para que não te canses, concordas? E se quiseres voltar, agora que te ofereço o presente do futuro em seu passado, reencarna em mim Fernandinho, que estou pronta. 

Rita Magnago

6 de março de 2012

NÃO BASTA O NÃO



Cristiana Seixas
O bastão da fala que idealizei para representar a obra "Equador", na reunião realizada dia 02 de março, foi a bandeira contra a escravidão

Foi muito significativo para mim elaborá-lo pois descobri que isto resume minha ação profissional e pessoal.  Entendi porque fiquei tão impactada pelo livro e pelo personagem.  Como psicóloga clínica, liberto de. Como Coach, liberto para.  

Percebo inúmeros tipos de escravidão nos rondando, independentemente da época ou localidade. Umas mais evidentes e absurdas, outras sofisticadas, como dizer sim quando se deseja dizer não, em nome da inclusão social.

É necessário primeiro libertar na mente - sinto que a biblioterapia, os clubes de leitura têm ajudado nisto - compartilhar formas diferentes de olhar e ter permissão de interpretar diferente, sonhar, imaginar e agir apesar do que foi construído desde a infância.

O mastro da bandeira é uma caneta - para lembrar que não focar somente do que não deve ser, mas ser capaz de escrever uma nova história, ser autor, protagonista da maior das mudanças: de si mesmo.  Por isto, durante a reunião, mencionei um fragmento do que o concierge escreveu:

"A eterna ilusão de que partir resolve nossas questões: fuga de si, de Matilde, da sua consciência ... Incompetência real."

Tem razão!

Dostoievski já falava do "fardo da liberdade".  É muito mais confortável ser um crítico de poltrona e ter inúmeros para culpar.  

A escravidão parece estar entranhada dentro de nós.