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1 de fevereiro de 2013

As Mulheres do meu Pai: José Eduardo Agualusa



Bêbada de abismo azul,

Luanda, uma imensa arara,
sob o Cruzeiro do Sul
bailava na noite clara.


(I)

* * * 

Caros amigos, coautores, ou não, do nosso Conto de Carnaval, 
Vocês concordam que, se Luanda fosse mulher, conforme descrita por Agualusa, na página 45, não poderia ser a nossa "mulata", apenas, não cansada e um pouco menos nua, mas quase?
Aliás, a descrição de sua Terra, Luanda, e de sua gente, é extraordinária!!! Viajei, sem precisar sair de casa. Senti-me em Luanda. Este é o poder da boa leitura.

(Elenir)


Luanda


AGUALUSA


Descubro que a África vive em mim
afogada, apertada, quase sucumbida
e no entanto forte e reveladora
sua presença é.

África de tantos amores
África de muitos horrores
de passado presente
que não se verga à aculturação.

África, faz passear meus navios
negreiros
viaja pelo meu coração amulatado
brasileiro
semeia a magia da noite estrelada
faz nascer a beleza na madrugada
crescendo entre vales encantados de além-mar

Meu sentimento é contigo
selvagem e indômito
pueril e devasso
atônito e tonto de tamanha revelação
só assim tu te mostras verdadeira
e sorrio, és a própria constelação.


Rita Magnago
Última atualização do blog: 09/01/2013

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Pequenas Dores... pequenas Rezas... e pequeninas Ervas


Penso que posso sonhar meus encantos

Enquanto o canto for só encantado
Enquanto sejam doces acalantos
Enquanto o verso não for verso errado.

Separo o verso, escrevo... e engraçado...
Não me recuso ao tempo dos quebrantos,
das rezarias negras, de um passado
Da rezadeira e seus rezares tantos.

Eu pequenina e ainda sem cuidado,
Rezava junto para almas e santos,
Que me cuidavam a minha revelia.

A rezadeira, há muitos anos tantos,
Foi-se daqui, do reino do "danado"
Para o lugar p'ra onde irei um dia.

                            (Ilnéa, em 05/01/2013)




"Eu sou mulher, exijo um comandante com voz de comandante"







Onde o barulho transforma-se em silenciosas faixas coloridas...
... e adormece, assim...bonito...
Luanda, no fim da tarde,
mergulhando, no infinito,
o Sol...sem fazer alarde.


(I, 11/01/2013)


* * *

Devia olhar o rei 

(Ana Paula Tavares)


Devia olhar o rei
Mas foi o escravo que chegou
Para me semear o corpo de erva rasteira

Devia sentar-me na cadeira ao lado do rei
Mas foi no chão que deixei a marca do meu corpo

Penteei-me para o rei
Mas foi ao escravo que dei as tranças do meu cabelo

O escravo era novo
Tinha um corpo perfeito
As mãos feitas para a taça dos meus seios

Devia olhar o rei
Mas baixei a cabeça
Doce terna
Diante do escravo.


* * *

O Primeiro beijo de Dona Anacleta e Faustino Manso


Nono Mandamento - Caubi Peixoto (1956)

Senhor, aqui estou eu de joelhos
trazendo os olhos vermelhos
de chorar porque pequei.

Senhor, por um erro de momento,
não cumpri um mandamento,
o nono da Vossa Lei.

Senhor, eu gostava tanto dela,
mas não sabia que ela,
a um outro pertencia.

Perdão, por esse amor que foi cego;
por esta cruz que carrego,
dia e noite, noite e dia.

Senhor, dai-me a vossa penitência;
quase sempre a inconsciência
traz o remorso depois.

Mandai para este caso comum,
conformação para um,
felicidade pra dois.


Fotografar é devassar (p.64)

“-Tu acreditas na fidelidade, mano?

-Eu? Eu não! Não acredito que um homem possa gostar de uma única mulher a vida inteira.

-Ouviste, tia? Esta é a perspectiva de um verdadeiro africano. Quanto a mim, acho que um homem que gosta de uma única mulher é porque não gosta de nenhuma. Não há homens fiéis, o que há é homens que não conseguem ser infiéis." (p.88)



6 comentários:

  1. Esse livro vai gerar tantas polêmicas... Só por este trecho postado, já se vê!rsrs

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  2. http://freemp3x.com/play.php?yti=94OXjAFBRV
    No livro há referencias desta dupla.

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  3. cada vez mais este blog fica uma fontepreciosa de informaçoes e de criatividade

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  4. A questão da fidelidade, ou melhor, da infidelidade, suscita polêmica sim, mas acredito que as opiniões são balizadas pelos conceitos culturais que introjetamos. O que eu acho hoje está tão permeado pelo que absorvi através da família, escola, livros, sociedade. É tudo tão relativo... Mas, o mais interessante é que esse destaque do trecho do livro do Agualusa sobre a fidelidade na verdade não quer dizer muita coisa, é como um trailler, atrai, mas depois é que vem a revelação, rsrsrs. O livro é ótimo.

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  5. Eu estou começando a leitura, então, ainda tomando ciência da situação... Falar algo, só depois de muitas páginas. Acho que essa leitura promete... rs E isso é bom demais!

    E lá vamos nós! Abraços!

    Sonia Salim

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  6. Parabéns aos poetas que se conectam ao livro, recebendo e devolvendo com sensibilidade e criatividade.
    Aoreiler sobre o Anoitecer em Luanda, Ilnea! Vc é um fonte inesgotável.
    Rita, Agualusa merece!! Muito bons ecos africanos em seu coração!
    O comandante tem voz!rsrs

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