Bêbada de abismo azul,
Luanda, uma imensa arara,
sob o Cruzeiro do Sul
bailava na noite clara.
(I)
* * *
Caros amigos, coautores, ou não, do nosso Conto de Carnaval,
Vocês
concordam que, se Luanda fosse mulher, conforme descrita por Agualusa,
na página 45, não poderia ser a nossa "mulata", apenas, não cansada e um
pouco menos nua, mas quase?
Aliás, a descrição de sua Terra, Luanda, e de sua gente, é
extraordinária!!! Viajei, sem precisar sair de casa. Senti-me em Luanda.
Este é o poder da boa leitura.
(Elenir)
Luanda |
AGUALUSA
Descubro que a África vive em mim
afogada, apertada, quase sucumbida
e no entanto forte e reveladora
sua presença é.
África de tantos amores
África de muitos horrores
de passado presente
que não se verga à aculturação.
África, faz passear meus navios
negreiros
viaja pelo meu coração amulatado
brasileiro
semeia a magia da noite estrelada
faz nascer a beleza na madrugada
crescendo entre vales encantados de além-mar
Meu sentimento é contigo
selvagem e indômito
pueril e devasso
atônito e tonto de tamanha revelação
só assim tu te mostras verdadeira
e sorrio, és a própria constelação.
Pequenas Dores... pequenas Rezas... e pequeninas Ervas
Penso que posso sonhar meus encantos
Enquanto o canto for só encantado
Enquanto sejam doces acalantos
Enquanto o verso não for verso errado.
Separo o verso, escrevo... e engraçado...
Não me recuso ao tempo dos quebrantos,
das rezarias negras, de um passado
Da rezadeira e seus rezares tantos.
Eu pequenina e ainda sem cuidado,
Rezava junto para almas e santos,
Que me cuidavam a minha revelia.
A rezadeira, há muitos anos tantos,
Foi-se daqui, do reino do "danado"
Para o lugar p'ra onde irei um dia.
(Ilnéa, em 05/01/2013)
"Eu sou mulher, exijo um comandante com voz de comandante" |
Onde o barulho transforma-se em silenciosas faixas coloridas...
... e adormece, assim...bonito...
Luanda, no fim da tarde,
mergulhando, no infinito,
o Sol...sem fazer alarde.
(I, 11/01/2013)
* * *
Devia olhar o rei
(Ana Paula Tavares)
Devia olhar o rei
Mas foi o escravo que chegou
Para me semear o corpo de erva rasteira
Devia sentar-me na cadeira ao lado do rei
Mas foi no chão que deixei a marca do meu corpo
Penteei-me para o rei
Mas foi ao escravo que dei as tranças do meu cabelo
O escravo era novo
Tinha um corpo perfeito
As mãos feitas para a taça dos meus seios
Devia olhar o rei
Mas baixei a cabeça
Doce terna
Diante do escravo.
* * *
O Primeiro beijo de Dona Anacleta e Faustino Manso
Nono Mandamento - Caubi Peixoto (1956)
Senhor, aqui estou eu de joelhos
trazendo os olhos vermelhos
de chorar porque pequei.
trazendo os olhos vermelhos
de chorar porque pequei.
Senhor, por um erro de momento,
não cumpri um mandamento,
o nono da Vossa Lei.
Senhor, eu gostava tanto dela,
mas não sabia que ela,
a um outro pertencia.
mas não sabia que ela,
a um outro pertencia.
Perdão, por esse amor que foi cego;
por esta cruz que carrego,
dia e noite, noite e dia.
Senhor, dai-me a vossa penitência;
quase sempre a inconsciência
traz o remorso depois.
quase sempre a inconsciência
traz o remorso depois.
Mandai para este caso comum,
conformação para um,
felicidade pra dois.
Fotografar é devassar (p.64) |
“-Tu acreditas na fidelidade, mano?
-Eu? Eu não! Não acredito que um homem possa gostar de uma única mulher a vida inteira.
-Ouviste, tia? Esta é a perspectiva de um verdadeiro africano. Quanto a mim, acho que um homem que gosta de uma única mulher é porque não gosta de nenhuma. Não há homens fiéis, o que há é homens que não conseguem ser infiéis." (p.88)
Esse livro vai gerar tantas polêmicas... Só por este trecho postado, já se vê!rsrs
ResponderExcluirhttp://freemp3x.com/play.php?yti=94OXjAFBRV
ResponderExcluirNo livro há referencias desta dupla.
cada vez mais este blog fica uma fontepreciosa de informaçoes e de criatividade
ResponderExcluirA questão da fidelidade, ou melhor, da infidelidade, suscita polêmica sim, mas acredito que as opiniões são balizadas pelos conceitos culturais que introjetamos. O que eu acho hoje está tão permeado pelo que absorvi através da família, escola, livros, sociedade. É tudo tão relativo... Mas, o mais interessante é que esse destaque do trecho do livro do Agualusa sobre a fidelidade na verdade não quer dizer muita coisa, é como um trailler, atrai, mas depois é que vem a revelação, rsrsrs. O livro é ótimo.
ResponderExcluirEu estou começando a leitura, então, ainda tomando ciência da situação... Falar algo, só depois de muitas páginas. Acho que essa leitura promete... rs E isso é bom demais!
ResponderExcluirE lá vamos nós! Abraços!
Sonia Salim
Parabéns aos poetas que se conectam ao livro, recebendo e devolvendo com sensibilidade e criatividade.
ResponderExcluirAoreiler sobre o Anoitecer em Luanda, Ilnea! Vc é um fonte inesgotável.
Rita, Agualusa merece!! Muito bons ecos africanos em seu coração!
O comandante tem voz!rsrs