Oi Grupo.
Para a próxima votação gostaria de sugerir "Infâmia", de Ana
Maria Machado. É um livro bastante interessante. Como o próprio título sugere, a autora aborda uma
característica comum ao homem: a calúnia, a difamação, o ato de distorcer
palavras ou ações de terceiros pelas razões mais diversas possíveis (obter
atenção, sentir-se dono da razão, ou em casos mais graves, obter algum
favorecimento em forma de poder, projeção social, bens materiais, etc. Existem
inúmeros casos, que vão dos mais inocentes à pura maldade).
Acredito que o tema dê margem a boas discussões, visto que sua abordagem
é ampla. A história da humanidade é rica em casos infames que
antecedem os tempos bíblicos. A política é abundante em escândalos deste
gênero. E não só homens públicos, mas cidadãos comuns, independente da classe
econômica e nível cultural, ou seja, nós, podemos ser testemunhas, vítimas ou
autores de ações levianas e julgamentos apressados de terceiros.
Ana Maria Machado é inteligente, crítica, atuante, ponderada e apresenta
ao leitor muito mais que a argumentação moral. Ela estimula a reflexão, a
deixar o mundo da ficção, a cegueira, e enxergar a realidade (“ser capaz de não
me excluir do real ao ser intruso no fictício”).
"Gosto muito de ser intruso assim. Junto a cada um. Com suas razões
próprias. Uma oportunidade de tentar entender melhor a natureza humana. Sempre
gostei.
Como
posso ter me perdido tanto, ao ponto de não ter conseguido fazer isso com minha
filha? Só porque não era um personagem feito de palavras?"
O livro apresenta ainda mais. Ao longo da narrativa a autora brinda o
leitor com arte na forma de música, pintura, escultura e principalmente
literatura. Muita literatura, com belíssimas citações, que estimulam nossa
curiosidade e nos fazem aprender mais sobre o mundo, o Brasil e, em particular,
a cidade do Rio de Janeiro e sua cultura.
Infâmia é um livro atual, popular, intelectual, brasileiríssimo. Uma
leitura que faz diferença. Além disso, o tema e estilo fogem do
que temos lido e dos livros que estão na
lista de leitura. Acho que seria bem legal lê-lo com o Grupo. Como eu havia
comentado no último mês, há tempos estou curiosa para ler este livro, mas com a
regra do revezamento valendo, só agora pude sugerir sua leitura. Deixo aqui a
sugestão, torcendo para que mais gente se interesse e assim, quem sabe,
possamos ler juntos em Novembro.
PS: Depois de “Infâmia” eu sugeriria “Cabine Individual”, da escritora
Gracinda Rosa. É um livro gostoso de ler e acredito que gere uma discussão
gostosa.
Sobre a autora:
“A carioca Ana Maria começou como pintora e estudou no Museu de Arte Moderna. Participou de várias exposições, enquanto estudava Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se formou. Ela desistiu da carreira de pintora e passou a dar aulas, além de escrever e traduzir artigos para jornais e revistas.
Ativista política, foi presa e perseguida durante a ditadura militar. Em 1969, partiu para o exílio na Europa. Lá, trabalhou na revista Elle, na BBC de Londres, lecionou na Sorbonne de Paris, onde conclui sua tese de mestrado sob a orientação do mestre Roland Barthes. Voltou ao Brasil em 1972 e trabalhou no Jornal do Brasil e, durante sete anos, foi chefe de reportagem da Rádio JB.
Em 1980, Ana Maria deixou o jornalismo para se dedicar exclusivamente aos livros.”
“A escritora recebeu alguns dos mais importantes prêmios da literatura,
como o "Jabuti", em 1978; o "Casa de las Americas", em
1981; e, no ano 2000, o prêmio "Hans Christian Andersen", considerado
o Nobel da literatura infantil.” Em 2001, recebeu o Prêmio Machado de Assis,
pelo conjunto da obra.
“Desde 2003, ela pertence à Academia Brasileira de Letras, tornando-se
primeira imortal eleita com uma significativa obra dedicada ao público
infanto-juvenil.” Em 2012 tornou-se presidenta da Academia.
Trechos da fala de Ana Maria Machado em entrevista a Conexão
Roberto D'avila:
"Infâmia é uma palavra bem forte porque é uma realidade
bem forte."
"[...] prejudicar na fama, no nome , no renome, naquilo
que a pessoa tem de mais precioso, que é onde ela se identifica. A Infâmia
ataca de maneira covarde pela calunia, certamente neste tipo de território sagrado
de cada um, da alma de cada um."
"[...] a facilidade com que alguém cria uma série de
coisas parecendo que é documento e na verdade não é, só para prejudicar alguém,
para avançar seus próprios interesses, isso é um traço da nossa política e da
nossa história que a gente tem que olhar com muita atenção [...] nós temos
sistematicamente em períodos pré-eleitorais, [...] Isso é uma coisa infame. É
um traço doente."
"[...] e eu acho que existe outra coisa também, que eu
também abordo no livro, que é a infâmia individual, a fofoca dirigida contra
alguém pela maldade ou casos específicos por interesse."
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