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26 de dezembro de 2020

Infâmia: Ana Maria Machado 2



Oi Grupo.
  
Para a próxima votação gostaria de sugerir "Infâmia", de Ana Maria Machado. É um livro bastante interessante. Como o próprio título sugere, a autora aborda uma característica comum ao homem: a calúnia, a difamação, o ato de distorcer palavras ou ações de terceiros pelas razões mais diversas possíveis (obter atenção, sentir-se dono da razão, ou em casos mais graves, obter algum favorecimento em forma de poder, projeção social, bens materiais, etc. Existem inúmeros casos, que vão dos mais inocentes à pura maldade).

Acredito que o tema dê margem a boas discussões, visto que sua abordagem é ampla. A história da humanidade é rica em casos infames que antecedem os tempos bíblicos. A política é abundante em escândalos deste gênero. E não só homens públicos, mas cidadãos comuns, independente da classe econômica e nível cultural, ou seja, nós, podemos ser testemunhas, vítimas ou autores de ações levianas e julgamentos apressados de terceiros.

Ana Maria Machado é inteligente, crítica, atuante, ponderada e apresenta ao leitor muito mais que a argumentação moral. Ela estimula a reflexão, a deixar o mundo da ficção, a cegueira, e enxergar a realidade (“ser capaz de não me excluir do real ao ser intruso no fictício”).

            "Gosto muito de ser intruso assim. Junto a cada um. Com suas razões próprias. Uma oportunidade de tentar entender melhor a natureza humana. Sempre gostei.

            Como posso ter me perdido tanto, ao ponto de não ter conseguido fazer isso com minha filha? Só porque não era um personagem feito de palavras?"

O livro apresenta ainda mais. Ao longo da narrativa a autora brinda o leitor com arte na forma de música, pintura, escultura e principalmente literatura. Muita literatura, com belíssimas citações, que estimulam nossa curiosidade e nos fazem aprender mais sobre o mundo, o Brasil e, em particular, a cidade do Rio de Janeiro e sua cultura.

Infâmia é um livro atual, popular, intelectual, brasileiríssimo. Uma leitura que faz diferença. Além disso, o tema e estilo fogem do que  temos lido e dos livros que estão na lista de leitura. Acho que seria bem legal lê-lo com o Grupo. Como eu havia comentado no último mês, há tempos estou curiosa para ler este livro, mas com a regra do revezamento valendo, só agora pude sugerir sua leitura. Deixo aqui a sugestão, torcendo para que mais gente se interesse e assim, quem sabe, possamos ler juntos em Novembro.


PS: Depois de “Infâmia” eu sugeriria “Cabine Individual”, da escritora Gracinda Rosa. É um livro gostoso de ler e acredito que gere uma discussão gostosa.  


Sobre a autora:

A carioca Ana Maria começou como pintora e estudou no Museu de Arte Moderna. Participou de várias exposições, enquanto estudava Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se formou. Ela desistiu da carreira de pintora e passou a dar aulas, além de escrever e traduzir artigos para jornais e revistas.

Ativista política, foi presa e perseguida durante a ditadura militar. Em 1969, partiu para o exílio na Europa. Lá, trabalhou na revista Elle, na BBC de Londres, lecionou na Sorbonne de Paris, onde conclui sua tese de mestrado sob a orientação do mestre Roland Barthes. Voltou ao Brasil em 1972 e trabalhou no Jornal do Brasil e, durante sete anos, foi chefe de reportagem da Rádio JB.

Em 1980, Ana Maria deixou o jornalismo para se dedicar exclusivamente aos livros.”

“A escritora recebeu alguns dos mais importantes prêmios da literatura, como o "Jabuti", em 1978; o "Casa de las Americas", em 1981; e, no ano 2000, o prêmio "Hans Christian Andersen", considerado o Nobel da literatura infantil.” Em 2001, recebeu o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra.
“Desde 2003, ela pertence à Academia Brasileira de Letras, tornando-se primeira imortal eleita com uma significativa obra dedicada ao público infanto-juvenil.” Em 2012 tornou-se presidenta da Academia.




Trechos da fala de Ana Maria Machado em entrevista a Conexão Roberto D'avila:

"Infâmia é uma palavra bem forte porque é uma realidade bem forte."

"[...] prejudicar na fama, no nome , no renome, naquilo que a pessoa tem de mais precioso, que é onde ela se identifica. A Infâmia ataca de maneira covarde pela calunia, certamente neste tipo de território sagrado de cada um, da alma de cada um."

"[...] a facilidade com que alguém cria uma série de coisas parecendo que é documento e na verdade não é, só para prejudicar alguém, para avançar seus próprios interesses, isso é um traço da nossa política e da nossa história que a gente tem que olhar com muita atenção [...] nós temos sistematicamente em períodos pré-eleitorais, [...] Isso é uma coisa infame. É um traço doente."

"[...] e eu acho que existe outra coisa também, que eu também abordo no livro, que é a infâmia individual, a fofoca dirigida contra alguém pela maldade ou casos específicos por interesse."




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